quinta-feira, 27 de maio de 2010

Canção de amor do tropicalismo

Canção de amor pop que projetou a voz de Gal Costa país afora, Baby foi composta por Caetano Veloso em 1968. A cantora gravou-a no LP Panis et Circensis, que lançaria a tropicália, e aderiu ao movimento liderado por Caetano e Gilberto Gil, adotando cabeleira vasta e roupas extravagantes. Logo antes, ela abandonara o nome de batismo, Maria da Graça, por sugestão de Guilherme Araújo, empresário de seus conterrâneos e companheiros de movimento.

No ano anterior, a cantora havia lançado, com Caetano, o disco Domingo, que tornara seu novo nome conhecido. Naquele mesmo ano, Maria Bethânia pediu a seu irmão Caetano que compusesse uma canção que incluísse a declaração de amor “Baby, I Love you”. O compositor fez a música, com arranjos de Rogério Duprat, e a guardou para a gravação do LP que vinha planejando com Gil, Duprat e outros tropicalistas. Mas, quando chegou o momento de entrar no estúdio, Bethânia decidiu não gravar porque não queria associar-se a movimentos ou militâncias. Assim, Gal pôde lançar Baby e fazer da canção seu primeiro hit.

O estilo bossa-novista de Gal Costa, que tinha João Gilberto como principal referência, é uma das marcas da gravação. De acordo com a receita tropicalista de misturar influências, Baby também incorpora o iê-iê-iê de Roberto Carlos, com a menção à “canção do Roberto”, e o pop internacional: Caetano cita em contracanto, ao fim da música, o verso “Please, stay by me, Diana”, de Diana, grande sucesso do estadunidense Paul Anka no fim da década de 1950.

A cultura de massas e de consumo, que chegava ao Brasil com força crescente, junto com o aumento da influência estadunidense – expresso já no título da canção -, inspira as referências da letra a “margarina” e “gasolina”. Repleta de elementos dissonantemente prosaicos, Baby desloca o lirismo das canções de amor para o contexto múltiplo, dinâmico e contraditório de uma urbanidade em expansão e transformação aceleradas.

Parecendo passear pela metrópole, a canção fala da “piscina” e da “lanchonete” e, como que a captar a euforia do milagre brasileiro, que ganharia força e embalaria promessas de modernização e desenvolvimento nos anos seguintes, chama São Paulo de “a melhor cidade da América do Sul”.

Logo depois, quando Caetano e Gil foram para o exílio na Inglaterra, em 1968, Gal permaneceu no Brasil e se aproximou de artistas como Jards Macalé e Jorge Mautner. Em 1971, sob direção do poeta Waly Salomão, estrelou o show Gal a Todo Vapor, que a sagrou como uma espécie de musa hippie brasileira. Cinco anos depois, novamente na campanha de Caetano, Gil e Bethânia, Gal protagonizou outro momento apoteótico da contracultura em terras tropicais: o show Doces Bárbaros, que, a exemplo de A Todo Vapor, renderia a gravação de um disco com o mesmo nome.

No fim da década de 1970, a carreira de Gal começaria a se desviar para outros caminhos, incorporando outros compositores e gêneros, sobretudo sambas e boleros, e afastando-se da herança tropicalista. Com a mudança, a cantora ampliou seu público e atingiu vendagens cada vez maiores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário