sábado, 5 de junho de 2010

O lorde da música

“Música assim não surgia neste país desde a morte de Henry Purcell”, disse Gustav Holst depois de ouvir Variações Enigma, do colega Edward Elgar. Para ter idéia do peso da frase, basta lembrar que Purcell morrera quase três séculos antes, em 1695. E, desde então, a Inglaterra não produzira um único criador de primeira linha. Elgar ocupou esse espaço. Ele liderou o que se convencionou chamar de renascimento da música britânica entre 1880 e 1920. Os ingleses o colocam no mesmo patamar de contemporâneos ilustres, como Richard Strauss e Gustav Mahler.

Elgar foi o músico que melhor representou os derradeiros momentos de esplendor do Império Britânico. Sua música exibe um forte caráter nacional, resultado do mergulho do compositor nas paisagens, nas canções e no perfume tão específico do campo inglês. Onde, aliás, ele nasceu: na pequena Broadheath, próximo de Worcester, no centro geográfico do país.

Edward Elgar nasceu em um ambiente musical. Seu pai era afinador de pianos e tinha uma loja de instrumentos. Nesse espaço cheio de pianos, violinos e violoncelos, Elgar ainda criança, iniciou seus estudos como autodidata. Somente aos 15 anos, decidiu estudar música de forma mais séria, aprendendo violino e piano. Como violinista, trabalhou pessoalmente com Dvorák, que muito o impressionou e veio a influenciá-lo em sua escrita. Como excelente músico que era, foi convidado a ensinar música e se tornou chefe de banda de alguns grupos de sua cidade.

Apesar de ser respeitado como músico e professor, Elgar conheceu o sucesso como compositor somente aos 42 anos, com a peça que, particularmente, me agrada muito: As Variações Enigma. Trata-se de seu primeiro grande trabalho para orquestra. Suas obras subseqüentes despertaram natural interesse, mas o sucesso alcançado por Enigma se repetiria somente com as marchas Pomp and Circunstance e com o Concerto para Violoncelo e Orquestra, composto pouco antes de sua morte e um dos mais belos do gênero.

As Variações Enigma retratam a mulher de Elgar, os amigos e Dan, seu amado cão, além de um autorretrato. A palavra enigma se justifica de duas maneiras. A primeira: o tema de seis compassos em sol menor enunciado apenas pelas cordas, seguido de quatro compassos em sol maior, é considerado como o contraponto de uma melodia muito conhecida. Entre as inúmeras alternativas imaginadas, o God Save the Queen, o hino nacional inglês, seria a tal melodia misteriosa. Mas o enigma jamais foi resolvido. O segundo uso do termo se refere às 14 variações. Cada uma delas é dedicada, por iniciais ou pseudônimo, a um amigo ou parentes próximos. No frontispício da partitura, está escrito: “Aos meus amigos que nela estão retratados”.

Com melodias elegantes, orquestração rica e cuidadosa, harmonia avançada, mas sem ser revolucionária, Elgar soube, como poucos, retratar na música as características de seu país e de si próprio. A alma e o humor de suas obras, a perfeição de suas formas, a serenidade de seu discurso exigem de quem as recria um ponto de equilíbrio para que o som flua naturalmente. Para quem escuta, é sempre um momento de prazer e encanto.

Um comentário:

  1. Engrandeu mais o meu curto conhecimento sobre música clássica, Aline. Eu sei que não tem nada a ver mas quando puder escreve alguma coisa sobre Black Sabbath, Led Zepellin, AC/DC, sobre o próprio Ozzy. EU SEI. Me empolguei, beijos.

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