domingo, 20 de junho de 2010

Equilíbrio entre o piano e a orquestra

Do surgimento do primeiro concerto para o instrumento que Johannes Brahms dominava para a estréia do Concerto para Piano N.2 em Si Bemol Maior Opus 83, passaram-se 22 anos. Tempo suficiente e fundamental para o compositor amadurecer e modificar sua maneira de pensar na relação entre piano e orquestra para esse tipo de obra instrumental.

Em 1854, época do surgimento de sua Sonata para Dois Pianos, Brahms ocupava-se somente de obras para esse instrumento, sem ter experiência com peças para orquestra. Mas já dava sinais de que idéias de composições que explorassem sonoridades mais amplas começavam a se desenvolver em sua mente. “Na realidade, nem mesmo dois pianos me bastariam”, disse Brahms, referindo-se à necessidade de ir além das limitações que seu piano encerrava.

Quando concebeu o primeiro concerto, Brahms já pensara em diminuir o abismo entre um tema solo (o do piano) e a expansão sinfônica. De fato, essa redução ocorre, mas é somente com o Concerto para Piano N.2 que ele atinge tal equilíbrio de forma perfeita. Pode-se dizer que a dosagem é extremamente bem-sucedida, pois o pianista não se apequena diante da gigantesca sombra da orquestra do período maduro do romantismo. Pelo contrário, até então Brahms nunca havia conseguido executar de forma tão sutil a complexa missão de separar com clareza as partes do solo e as da orquestra.

Mesmo com domínio completo da técnica, o compositor da cidade de Hamburgo, Alemanha, conseguiu com essa obra demonstrar outra virtude: não fazer apenas um concerto de virtuose para o piano, seguindo os cânones formais disseminados no século 19. Seu objetivo não era fazer com que o pianista sobressaísse à orquestra nem que esta dominasse unilateralmente os quatro movimentos. O que se buscava era que os dois fossem subordinados à idéia da composição e respeitassem de forma natural as intervenções um do outro. Brahms aproveitou os exemplos deixados pelo austríaco Mozart e o compatriota Beethoven para executar essa sinergia de forma singular. Como disse o crítico musical alemão Carl Dahlhaus: “Brahms não se submetia à tradição, ele a repensava”.

Com cerca de uma hora de duração, o Concerto para Piano N.2 tem quatro movimentos. No primeiro, destaque para a combinação de força e respeito entre o solo e a orquestra. O segundo é conhecido pela extrema dificuldade exigida do piano em algumas passagens. Para se ter uma idéia, o pianista brasileiro Nelson Freire, um dos maiores do mundo, se revelou aflito diante da famosa seqüência de oitavas a ser executada com as duas mãos – as famosas “oitavas de Brahms”. No terceiro movimento, grande parte da expressividade sentimental fica a cargo dos violoncelos. Por fim, o último é marcado pelo belo diálogo entre piano e cordas rumo à apoteose.

O Concerto para Piano N.2 tornou-se modelo para pianistas. Reconhecido pelas obras sinfônicas, anos depois Brahms ainda fez um concerto para violino, violoncelo e orquestra, eternizando-se como um compositor completo também no gênero instrumental com solistas.

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