sexta-feira, 18 de junho de 2010

Música feita com imaginação

O compositor estadunidense Charles Ives não teve medo de ser uma voz dissonante. Numa época em que os músicos de seu país miravam-se na tradição européia, Ives fez a música que sua imaginação quis. Como a composição não era sua fonte de renda, pôde mais facilmente se libertar das convenções e experimentar inovações que só mais tarde seriam adotadas por outros músicos europeus.

Depois de ter estudado música na Universidade Yale, o compositor entrou para o ramo de seguros. Corretor bem-sucedido, pôde, nas horas vagas, soltar a imaginação em obras de grande complexidade. Suas composições deram muito trabalho na hora da publicação: a Sinfonia N.4, por exemplo, tem trechos em que os instrumentos executam 17 ritmos diferentes de uma só vez.

Composta no período de maior criatividade de Ives, entre os anos de 1910 e 1916, essa obra, de difícil execução, é a maior expressão do seu pensamento visionário. Exigia a distribuição dos músicos por pontos diversos do auditório, de modo que o público percebesse intensidades sonoras diferentes. O fascínio pelos sons do cotidiano se faz perceber em diversos trechos da sinfonia, em especial no segundo movimento. Aqui, os metais executam frases de fanfarra em meio a uma textura caótica, barulhenta e atonal. No quarto e último movimento, partes tonais e atonais se digladiam, fechando-se com uma vocalização inovadora para coro.

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