sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fé cristã e polifonia em harmonia

Evitando as dissonâncias e produzindo sonoridades consideradas “sublimes” por seus contemporâneos, Giovanni Pierluigi da Palestrina era o compositor ideal para provar aos doutores da Igreja, reunidos no Concílio de Trento, preocupados com o avanço do protestantismo, que a fé cristã não era incompatível com a polifonia – estilo de composição com mais de duas linhas melódicas executadas ao mesmo tempo. Reza a lenda que muitos membros do Concílio, que a consideravam um empecilho ao entendimento do texto sacro, mudaram de idéia ao ouvir a Missa Papae Marcelli (Missa do Papa Marcelo), dedicada a Marcelo Cervini, o papa Marcelo II, entronizado em 1555 e morto 22 dias depois de ter assumido o pontificado. Palestrina provou que a voz humana era a melhor forma de exprimir o significado das palavras bíblicas, associada às imagens visuais evocadas pelas demais linhas melódicas da obra. Com esta missa, publicada em 1567, salvou a polifonia da proibição católica.

Palestrina casou-se duas vezes. Sua segunda esposa, Virginia Domoli, financiou as obras do marido ao longo de seus últimos anos de vida. Mesmo assim, os planos do celibato passaram pela cabeça do compositor italiano. Esse sonho religioso jamais se concretizou. Com suas 150 missas, 250 motetos (peças polifônicas), madrigais e outras obras sacras, Palestrina era extremamente alinhado com a Contra-Reforma. Tornou-se mestre-de-capela das duas maiores igrejas romanas, São João de Latrão e Santa Maria Maggiore, com passagens pela Capela Giulia e pela Capela Sistina. Sua música tornou-se paradigma do que deveria ser a música religiosa feita dentro dos cânones do catolicismo.

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