quarta-feira, 21 de abril de 2010

A batida do destino à porta

Pergunte quem não tenha familiaridade com a música erudita e peça que “cante” uma composição de Beethoven. Muito provavelmente, a resposta será o “tan-tan-tan-taan” – talvez o tema rítmico mais marcante da história musical, tão forte que se tornou a letra “V” (de vitória) no código Morse. Essas quatro figuras rítmicas que permeiam toda a composição – que apareceriam em mais tantas, como a Sonata Appassionata, o Concerto para Violino opus 131 e o Concerto para Piano número 4 – abriram a música de Beethoven para além do mundo germânico.

Apesar de muitos a apresentarem como antecipação triunfal do romantismo ou como obra que derrubou a regularidade do classicismo, a Quinta Sinfonia de Beethoven não abre mão, do começo ao fim, das leis de estrutura musical consagradas por Joseph Haydn. Estruturalmente, é uma obra mais clássica que a sinfonia Eroica. A novidade não está na desobediência às regras, mas sim na forma direta e incandescentemente enérgica como as idéias musicais são apresentadas e reforçadas: as três notas curtas que se encadeiam em uma outra longa são repetidas consecutivamente durante os 58 primeiros compassos, sem modulações. Nas palavras de Beethoven, “so pocht das Schicksal na die Pforte” (assim bate o destino à porta).

Um possível caráter militar não deixou de ter implicações patrióticas entre seus contemporâneos. A Quinta foi concluída por ocasião do surgimento do patriotismo alemão, estimulado pelo Tratado de Tilsit, em 1807, quando a Prússia entrou em colapso e cedeu à França seu território entre os rios Reno e Elba. No entanto, biógrafos tendem a atribuir o vigor da composição menos a um triunfalismo marcial do que à intimidade de Beethoven. Segundo o compositor francês Hector Berlioz, Beethoven revelou na Quinta “suas ansiedades mais privadas, suas meditações mais solitárias e desoladas, visões noturnas (...), com ardor de seu mais novo amor [especula-se que o tal destino era o impedimento de que se unisse a Theresa Brunswick, possivelmente a tal Amada Imortal”.

A exploração de pausas torna a peça ainda mais expressiva. “Minhas pausas têm que ser longas e sérias. Você acha que as fiz (...) por saber o que escrever? (...) O sangue vital da nota tem que ser espremido até a última gota, com força para levar as ondas do mar e deixar à mostra o fundo do oceano, parar o caminho das nuvens, dispersar as névoas e revelar o límpido céu azul e a face incandescente do sol.”

Com tamanho apelo, a obra não demorou a ser incorporada pela cultura pop. Walter Murphy criou uma versão disco que entraria na trilha sonora de Embalos se Sábado à Noite; nos anos 1980, o virtuose da guitarra Yngwie Malmsteen fez uma versão metal, enquanto, na década seguinte, ela inauguraria a sala de concertos de Springfield, a cidade dos Simpsons.

A Sinfonia número 5 de Beethoven, é uma das músicas favoritas da minha companheira de blog e amiga, Elis Campos. Então, em homenagem à Elis, este texto foi escrito e esta composição pode ser ouvida e vista no vídeo abaixo:



Confira um podcast que fizemos a partir da seguinte pergunta: "Quando você escuta falar de Beethoven, do que você lembra?" no link

E ouça uma rápida entrevista que fizemos com o maestro Márcio Landi, da Orquestra Eleazar de Carvalho, sobre Beethoven no link

Um comentário:

  1. Aaaamo de paixão =) Beethoven era um gênio. A 5ª é, realmente, minha favorita. Há umas sonatas que eu amo, também, mas a 5ª sinfonia concentra toda paixão, sensibilidade, grandiosidade e energia de Beethoven.
    Obrigada pela dedicatória, minha querida ;-)
    Beijos!

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