sábado, 15 de maio de 2010

O pai da música tcheca

Compositor cidadão. Esse, com certeza, é um elogio que deixaria Bedrich Smetana satisfeito. Ninguém como ele encarnou com mais tenacidade e talento a luta pela afirmação da nacionalidade boêmia. Considerado o “pai da música tcheca”, o compositor apostou na música como característica definidora de seu povo. “A vida dos tchecos está na música!”, foi o que disse à massa de camponeses reunida em torno do lançamento da pedra fundamental do Teatro Nacional de Praga, em 1868. Além de profundamente engajado na emancipação política e cultural de sua gente, Smetana também era um excepcional compositor e conseguiu traduzir em sons suas idéias.

Quando se fala em música tcheca, grande parte do público pensa em Dvorák. No entanto, o primeiro a difundir a produção musical dessa região foi Bedrich Smetana. Ele começou como instrumentista, dedicando-se principalmente ao piano e ao violino. Graças à amizade com Franz Liszt, assumiu a função de regente em Gotemburgo, na Suécia.

Uma tragédia fez com que Smetana se voltasse à composição. Em um período de nove meses, ele perdeu dois filhos. Para amenizar o sofrimento, começou a escrever música. Tinha quase 32 anos quando conheceu seu primeiro sucesso, com o Opus 15, o sombrio Trio para Violino, Violoncelo e Piano em Sol Menor. O compositor dedicou sua obra a peças de temática folclórica e nacionalista, mas será sempre lembrado como um grande criador de óperas, todas com o libreto em tcheco.

Numa de suas óperas, por exemplo, o personagem principal, Dalibor, é um herói emblemático que simboliza a generosidade, a coragem, a virtude, a nobreza e a simplicidade dos tchecos. Determinado, protetor dos oprimidos, Dalibor está preso. E no cárcere aprende a tocar violino. Desse modo, consegue se comunicar com o povo e, por meio de suaves melodias, atrai a população à fortaleza em que está aprisionado.

Devido a problemas de saúde, ele abandonou o cargo de diretor de música do Teatro Nacional em Praga. Estava perdendo a audição. Assim como Beethoven com a Nona Sinfonia, Smetana compôs sua obra-prima, o poema sinfônico Má Vlast (Minha Pátria), na absoluta surdez. Ainda teve de lutar contra dificuldades financeiras, problemas familiares e intrigas de rivais. Morreu, como Schumann, em um manicômio.

A música de Smetana não tem caráter depressivo, como faz supor a sua trajetória sofrida. Trata-se de uma música magistral, por vezes mozartiana. Sua obra nos lembra que sempre podemos superar obstáculos e acreditar em um futuro melhor, na compreensão humana e na rendição divina.

A composição de Smetana que poderemos ouvir no vídeo abaixo é Má Vlast, a grande obra-prima do tcheco que é uma vasta tapeçaria nacionalista tecida em seis ambiciosos poemas sinfônicos:


2 comentários:

  1. Caríssimas,
    Muito obrigado pela postagem sobre Smetana. Acabara de comprar um CD dele, e entrei na Internet para procurar algo mais a respeito e... encontrei o blog de vocês! Uma supercoincidencia, pois também sou da Unifor! Parabéns pelo blog, já estou seguindo! A propósito, uma dica: Em julho a Unifor vai expor, em seu espaço cultural no Hall da Biblioteca, como parte das atividades do Festival Eleazar de Carvalho, um interessante material pictográfico sobre Chopin. Vale conferir.

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  2. Obrigada, Henrique. Espero que tenhamos te ajudado a conhecer um pouco mais deste grande compositor que é o Bedrich Smetana.
    Obrigada pela dica sobre a exposição do Chopin também. Aliás, se você gosta do Chopin, nós já postamos um texto sobre ele e analisamos a Balada Número 4.

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