A peça, que inicialmente se intitulava Acorda Finlândia, causou profundo impacto na sociedade do país e alimentou a resistência contra o crescente domínio do czar russo Nicolau II. Apesar de considerada um poema sinfônico, Finlândia não tem um programa explícito e concreto que assim a defina. Sabe-se apenas que se trata de um grito de liberdade em busca da soberania nacional. O próprio Sibelius negava a idéia literária em suas obras: “São músicas imaginadas e escritas como expressão musical sem nenhum fundamento literário. Não sou um músico de literatura: para mim, a música começa onde termina a palavra”.
Finlândia é composta de um movimento e contém as características típicas de um hino nacional: notas elevadas de coral, melodias quase épicas e trechos retumbantes de fanfarras que exploram de forma intensa os metais. O início da peça é turbulento e tenso, representando a luta do povo, seguido por uma calma e uma serenidade que invadem a música para introduzir um trecho festivo, quase de comemoração. É o caminho que, na visão de Sibelius, o povo finlandês teria de percorrer para chegar à liberdade.
Assim como em suas sete sinfonias e em outras obras de sua autoria, o compositor procurou ilustrar também a natureza gélida e os extensos lagos sombrios e monótonos de sua terra. Em Finlândia, porém, não são perceptíveis traços da música folclórica, algo comum entre os compositores do norte europeu da época. Sibelius, influenciado por seus antecessores, representava a resistência do romantismo, que já chegava ao fim. Foi tachado de conservador. A solidez admirável de suas obras representa, para muitos especialistas, um romantismo anacrônico que evita as inovações naturais impostas no período pela música moderna de Gustav Mahler.
Alheio aos críticos, Sibelius testemunharia a independência de seu país apenas em 1917, durante a revolução bolchevique na Rússia. Em 1941, veria sua obra Finlândia se tornar definitivamente o hino extra-oficial da nação que tanto amava. Durante a Segunda Guerra Mundial, após a invasão da Finlândia pela Rússia, o poeta finlandês Antero Veikko Koskenniemi escreveu um texto para o poema sinfônico de Sibelius, que logo criou um arranjo para o coro. Com letra, a peça se configurou ainda mais como hino.
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