Boris Godunov é estruturada com base em melodias oriundas do folclore russo. Os elementos eslavos da partitura são evidenciados principalmente nas cenas populares, isto é, naquelas em que há um maior número de intervenções de agentes do povo – o último ato é referencial nesse sentido. Até mesmo a forma de canto é inspirada nos ritmos da fala cotidiana dos russos. Mussorgsky optou pela expressão vocal em arioso (uma forma híbrida entre a pura declamação do recitativo e a efusão lírica da ária), o que confere leveza à ópera e a faz seguir em um fluxo contínuo, sem interrupções bruscas entre os recitativos. Seja nas cenas dramáticas, seja nas mais espetaculares, a obra mantém o equilíbrio orquestral e coral durante a execução.
Mussorgsky também emprega o recurso do leitmotiv (motivo condutor): para derrubar um usurpador que governa a Rússia levanta-se, na Polônia, um exército em torno de um jovem que diz ser o herdeiro legítimo do trono. Sabe-se que esse jovem é um impostor, mas pouco importa: nobreza e povo não suportam mais a tirania do czar Boris Godunov e apóiam a ousadia do temerário que deseja destroná-lo.
Conhecido como Período das Perturbações, o tempo de Boris Godunov inspirou um monumental drama histórico do “pai” da literatura russa, Aleksandr Pushkin, e foi baseado nessa peça, bem como na História do Estado Russo, de Nikolai Karamzin, que Mussorgsky escreveu sua ópera. Contudo, alcançou fama universal em sua versão mais breve, reorquestrada pelo compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov. Amigo de Mussorgsky e admirador de sua música, Rimsky-Korsakov tinha a melhor das intenções ao refazer a instrumentação da peça, corrigindo aquilo que ele via como “erros” do compositor. Hoje em dia, contudo, considera-se que esse arranjo atenuou a radicalidade estética de Mussorgsky, e a tendência é encenar Boris Godunov utilizando a orquestração original de seu autor.
Como prometi no primeiro post que fiz sobre o grande compositor russo Modest Mussorgsky, trago hoje aos leitores, a maior ópera russa Boris Godunov:
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