quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sensível perfeccionista


Quem nunca ouviu falar no famoso Bolero de Ravel? Para muitos, é a peça francesa mais executada de todos os tempos. A obra de Maurice Ravel não se restringe somente ao Bolero. Compositor e pianista igualmente brilhante, ele viveu a transição do século 19 para o 20 em pleno romantismo tardio, identificando-se com os compositores e a música de seu país, a França. Influenciado por Debussy, além de sua declarada paixão por Mozart, a delicadeza e a sutileza de suas melodias o colocaram em posição de grande destaque no impressionismo.

De personalidade discreta, apesar da elegância que beirava o dandismo, Ravel imprimia em suas músicas um refinamento preciso. Sabia escolher, como poucos, o instrumento adequado para cada situação. Nascido próximo à fronteira com a Espanha, Ravel adotou diversas vezes em seu trabalho temas do país vizinho. Apesar do nome, o Bolero se assemelha mais a outra dança espanhola, a passacale, derivada de um ritmo trazido das índias.

A passacale foi bastante modificada na França, mas em Ravel volta às raízes. A característica melodia repetitiva foi levada ao extremo pelo compositor: o tema do Bolero quase não varia, incansavelmente executado por aproximadamente 15 minutos, dependendo da interpretação. A caixa-preta (instrumento de percussão na forma de um tambor raso) marca o ritmo fazendo o papel das castanholas, tocando as tercinas (divisão de uma batida do compasso em três mais aceleradas).

Houve quem não compreendesse que a genialidade da obra está na sua forma de manter o interesse por uma melodia sem variação. Na estréia, em Paris, a coreografia da russa Bronislava Nijinska provocou escândalo. Uma espectadora saiu no meio da apresentação exclamando que Ravel estava “louco”. Sem perder a pose, o compositor disse que ela havia “compreendido a obra”. Pouco tempo depois, se manifestaria os primeiros sintomas de uma doença neurológica degenerativa que lhe afetaria os movimentos e a fala até a morte.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto e as escolhas que você faz no blog como um todo.

    "Bolero de Ravel" é fora de série. Tem um músico brasileiro que fez uma versão na guitarra muito bacana, Robertinho do Recife.

    Aliás pai do Dudu Caldas, meu grande camarada e o maior ator mirim de todos os tempos..rs

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