Com Kodály, que também era linguista, Bartók percorreu diversos volarejos na Hungria, registrando músicas tradicionais em cilindros de cera. Milhares de composições populares húngaras e também romenas, eslovacas, búlgaras, turcas e até norte-africanas foram gravadas e depois transcritas pela dupla. Em vez de usar superficialmente temas para gerar um colorido folclórico, Bartók incorporou características básicas do processo de composição popular, com base nas quais ele desenvolvia técnicas eruditas modernas. É o caso do segundo e do quarto movimentos do Concerto para Orquestra, que revelam grande influência rítmico-melódica do Leste Europeu.
O gênero concerto apresenta um ou dois solistas acompanhados por uma orquestra. Nessa composição de Bartók, todos os músicos se alternam no papel de solista. A habilidade da orquestra é exigida em trechos com grande intercalação de temas e mudanças bruscas de andamento e humor, como no quinto movimento. O divertido segundo movimento, Giuoco delle Coppie (Jogo das duplas), valoriza os sopros, que desenvolvem a melodia sempre aos pares, com muita leveza.
A obra foi composta durante o sofrido exílio de Bartók nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra. A Hungria havia se alinhado com a Alemanha nazista, mas o compositor hesitou muito antes de partir, já que a viagem implicaria um distanciamento das aldeias que visitava. Depois de ter trabalhado para a Universidade Columbia com gravações servo-croatas, o músico entrou numa fase difícil. Estava com pouco dinheiro, desenvolveu uma leucemia tardiamente diagnosticada e era pouco conhecido do público estadunidense. Graças ao contato de amigos, o maestro russo Sergei Koussevitzky encomendou a ele um concerto para a Orquestra Sinfônica de Boston. O resultado transformou Bartók no mais popular compositor do século 20 nos Estados Unidos - ainda que após sua morte.
Mesmo doente, Béla Bartók foi à estréia do Concerto para Orquestra, em dezembro de 1944. Koussevitzky declarou ao compositor que aquela era a melhor obra dos últimos 20 anos - depois da apresentação, "corrigiu" para 25. Bartók brincou com o maestro, perguntando se isso incluía as sinfonias de seu ídolo e compatriota Dmitri Shostakovich, a quem o compositor húngaro dava pouco valor. A piada tinha razão de ser: um trecho do Concerto parodia a Sonfonia número 7 de Shostakovich.
Confiram no vídeo abaixo, Concerto para Orquestra, do grande, talentoso e surpreendente Béla Bartók:
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