“Tenho o grande defeito de só saber escrever música quando os meus fantoches movem-se no palco. Se pudesse ser um sinfonista puro, enganaria o meu tempo e o meu público. Mas, quando nasci, tantos e tantos anos atrás... Quase um século... Deus santo tocou-me com o dedo mindinho e disse-me: ‘Escreva para o teatro. Mas preste atenção: só para o teatro!’ – e eu segui seu supremo conselho. Se Ele me tivesse designado para outra profissão, talvez eu não estivesse agora sem matéria-prima.”
Foi assim, fazendo graça, que Giacomo Puccini reclamou em carta ao seu libretista, Giuseppe Adami, por não ter nada para compor, enquanto aguardava que este lhe entregasse o libreto de sua derradeira ópera, Turandot, que permanecer inacabada. Puccini escreveu 12 óperas em 40 anos de criação e conquistou um saldo inalcançável para qualquer outro compositor lírico.
Pouco antes de completar 17 anos e aluno do Istituto Musicale di Lucca, Puccini assistiu à ópera Aida, de Verdi, pela primeira vez. A obra soou como uma revelação para o jovem estudante de música. Após terminar o curso em Lucca, ele se mudou para Milão para estudar com Ponchielli no conservatório da cidade. Ali estreou sua primeira ópera, Le Villi, depois escreveu Edgar e, quatro anos mais tarde, estreou Manon Lescaut. A partir de então, só conheceu o sucesso.
Puccini é por vezes acusado de se manter distante das mudanças estéticas de seu tempo, principalmente na comparação com Debussy, Janácek e Richard Strauss. Mas, quando analisamos sua escrita harmônica, sua rica e delicada orquestração, além de sua coerência dramática, vemos que Puccini era um compositor conectado com sua época. La Bohème e Tosca antecederam Madama Butterfly, que narra o drama de uma jovem japonesa que se apaixona e casa com um oficial estadunidense. Ela muda de religião e de costumes, assumindo completamente a nova vida, e acaba renegada por seus parentes. Ao perceber que havia sido abandonada e traída pelo marido, entrega seu filho e se suicida. Somente Puccini seria capaz de transformar em música uma história como essa. Ele faz uso cuidadoso de melodias japonesas e estadunidenses, aliando-as com grande habilidade.
Uma das coisas mais difíceis é escolher uma única ópera entre tantas de Puccini para escrever aqui. Portanto, depois de pensar muito, resolvi escrever sobre a magnífica poesia e tragédia feminina que é La Bohème. Puccini já havia lido Scènes de La Vie de Bohème, do novelista francês Henri Murger, que o havia inspirado a começar sua nova ópera, quando recebeu a notícia de que o também italiano Ruggiero Leoncavallo – autor da ópera I Pagliacci – trabalhava para musicar La Bohème. Puccini não se abalou. Afirmou que o público saberia qual seria a melhor das duas. Puccini não somente compôs a melhor ópera, como também conseguiu estreá-la um ano antes do concorrente.
A primeira apresentação de La Bohème aconteceu em Turim, em 1896, sob a regência de Arturo Toscanini, amigo de Puccini. A ópera não obteve grande êxito perante a crítica, embora tenha sido representada 24 vezes consecutivas na estréia. Foi ovacionada pelo público, que se identificou com a presença dos personagens envolvidos em uma trama desenrolada em ambientes conhecidos – o cenário da obra é a cidade de Paris na década de 1830. Os diálogos cantados no primeiro e no último atos reproduzem, por exemplo, a sonoridade da fala cotidiana, apoiados pela contínua e brilhante orquestração – recurso consagrado por Puccini em sua ópera anterior, Manon Lescaut, em que as árias não interrompem a fluência da escrita orquestral.
Ao longo do século 20, La Bohème ganhou força e interpretações diversas, como a adaptação para o cinema feita em 1993 pelo australiano Baz Luhrmann, diretor de filmes como Moulin Rouge. Aliás, os personagens e ambientações parisienses do século 19 do filme lembram bastante La Bohème. Nos dois casos, os protagonistas são poetas que sofrem com a morte, por tuberculose, de suas amadas – Mimi, de Puccini, e Satine, em Moulin Rouge. Moulin Rouge é praticamente uma adaptação contemporânea da história cantada em La Bohème. Segue, com exatidão, a receita de Puccini, que costumava dar finais trágicos às suas protagonistas femininas.
Agora, fique com um trecho da ópera La Bohème e viaje nesse mundo delicado, rico e altamente emocionante que é a ópera de Puccini.
Foi assim, fazendo graça, que Giacomo Puccini reclamou em carta ao seu libretista, Giuseppe Adami, por não ter nada para compor, enquanto aguardava que este lhe entregasse o libreto de sua derradeira ópera, Turandot, que permanecer inacabada. Puccini escreveu 12 óperas em 40 anos de criação e conquistou um saldo inalcançável para qualquer outro compositor lírico.
Pouco antes de completar 17 anos e aluno do Istituto Musicale di Lucca, Puccini assistiu à ópera Aida, de Verdi, pela primeira vez. A obra soou como uma revelação para o jovem estudante de música. Após terminar o curso em Lucca, ele se mudou para Milão para estudar com Ponchielli no conservatório da cidade. Ali estreou sua primeira ópera, Le Villi, depois escreveu Edgar e, quatro anos mais tarde, estreou Manon Lescaut. A partir de então, só conheceu o sucesso.
Puccini é por vezes acusado de se manter distante das mudanças estéticas de seu tempo, principalmente na comparação com Debussy, Janácek e Richard Strauss. Mas, quando analisamos sua escrita harmônica, sua rica e delicada orquestração, além de sua coerência dramática, vemos que Puccini era um compositor conectado com sua época. La Bohème e Tosca antecederam Madama Butterfly, que narra o drama de uma jovem japonesa que se apaixona e casa com um oficial estadunidense. Ela muda de religião e de costumes, assumindo completamente a nova vida, e acaba renegada por seus parentes. Ao perceber que havia sido abandonada e traída pelo marido, entrega seu filho e se suicida. Somente Puccini seria capaz de transformar em música uma história como essa. Ele faz uso cuidadoso de melodias japonesas e estadunidenses, aliando-as com grande habilidade.
Uma das coisas mais difíceis é escolher uma única ópera entre tantas de Puccini para escrever aqui. Portanto, depois de pensar muito, resolvi escrever sobre a magnífica poesia e tragédia feminina que é La Bohème. Puccini já havia lido Scènes de La Vie de Bohème, do novelista francês Henri Murger, que o havia inspirado a começar sua nova ópera, quando recebeu a notícia de que o também italiano Ruggiero Leoncavallo – autor da ópera I Pagliacci – trabalhava para musicar La Bohème. Puccini não se abalou. Afirmou que o público saberia qual seria a melhor das duas. Puccini não somente compôs a melhor ópera, como também conseguiu estreá-la um ano antes do concorrente.
A primeira apresentação de La Bohème aconteceu em Turim, em 1896, sob a regência de Arturo Toscanini, amigo de Puccini. A ópera não obteve grande êxito perante a crítica, embora tenha sido representada 24 vezes consecutivas na estréia. Foi ovacionada pelo público, que se identificou com a presença dos personagens envolvidos em uma trama desenrolada em ambientes conhecidos – o cenário da obra é a cidade de Paris na década de 1830. Os diálogos cantados no primeiro e no último atos reproduzem, por exemplo, a sonoridade da fala cotidiana, apoiados pela contínua e brilhante orquestração – recurso consagrado por Puccini em sua ópera anterior, Manon Lescaut, em que as árias não interrompem a fluência da escrita orquestral.
Ao longo do século 20, La Bohème ganhou força e interpretações diversas, como a adaptação para o cinema feita em 1993 pelo australiano Baz Luhrmann, diretor de filmes como Moulin Rouge. Aliás, os personagens e ambientações parisienses do século 19 do filme lembram bastante La Bohème. Nos dois casos, os protagonistas são poetas que sofrem com a morte, por tuberculose, de suas amadas – Mimi, de Puccini, e Satine, em Moulin Rouge. Moulin Rouge é praticamente uma adaptação contemporânea da história cantada em La Bohème. Segue, com exatidão, a receita de Puccini, que costumava dar finais trágicos às suas protagonistas femininas.
Agora, fique com um trecho da ópera La Bohème e viaje nesse mundo delicado, rico e altamente emocionante que é a ópera de Puccini.
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